Ensaio sobre um desabafo
De repente, todas as palavras bonitas e bem impostas me
vieram à mente, como se as milhares de páginas lidas nos últimos meses tivessem
finalmente completado seu ciclo e parado em meu discurso. Eram palavras firmes,
com significados fortes e, por vezes, cortantes. Passaram dos meus dedos às
teclas como um vinho encorpado, que embriaga a delicadeza do espírito e cumpre
seu papel tal qual manda o roteiro. E foram taças desse vinho.
No momento seguinte, a ressaca. Ressaca de sentimentos,
desgaste de momentos lindos em um fim melancólico e banal como todos os outros.
Uma história que teria ganho mérito no realismo, com um mistura do clássico e
do romântico: uma ousadia que quase deu certo.
Mas e quanto aos finais? Que vida redonda é essa que insiste
em se refazer em novos corpos, novas feições? Ainda há de encontrar por aí uma
alma que deteste formas tanto quanto eu, que enxergue o universo particular,
essa bolha, que partilham as pessoas capazes de amar o outro como se ama a si
mesmo.
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