terça-feira, 29 de abril de 2014

29 de abril, Dia Internacional da Dança

 Mais do que um dia cheio de movimento, mais do que fotos dançantes, mais do que o amor que quem dança sente a cada passo: hoje vejo a necessidade de falar sobre o RECONHECIMENTO da DANÇA enquanto ARTE. E aqui, deixo em aberto alguns questionamentos a respeito da dança no nosso país...
 Afinal, qual é o espaço da dança no Brasil hoje? Onde vemos a dança nas nossas cidades? Com que honestidade estamos lidando com as mais diversas técnicas de movimento e possibilidades do corpo? Nossos professores são qualificados? Nossos dançarinos sabem algo além dos passos de suas respectivas modalidades? Que representação temos junto aos órgãos responsáveis pelo investimento em arte no país?
 Por que ainda vemos brasileiros que acham que dança de qualidade é perna no alto, giros e saltos intermináveis? Por que o nosso povo ainda não tem acesso a outras formas de se fazer a dança ou por que ainda não temos bagagem cultural suficiente para entender espetáculos mais complexos? Por que precisamos morar em regiões metropolitanas, ou nos deslocarmos até elas, para ter acesso a tudo isso? Por que dependemos de editais públicos, que por vezes se mostram com curadoria duvidosa, para mostrar a nossa arte?
 Como disse uma professora minha, “é revoltante que o artista brasileiro tenha que mendigar edital para receber investimentos do governo, como se o povo que faz arte só precisasse comer e pagar contas quando são selecionados em algum edital”.
 E para finalizar: o que nós, artistas (ouso rotular-me assim também), estamos fazendo pela nossa arte? Cada um é, em parte, responsável pela realidade em que vive. Precisamos ter consciência de nossa posição político-social e que nossas ações, por mais que atinjam minorias, podem sim contribuir positivamente para o desenvolvimento artístico-cultural da cidade em que vivemos.
 Ensaio sobre um desabafo

 De repente, todas as palavras bonitas e bem impostas me vieram à mente, como se as milhares de páginas lidas nos últimos meses tivessem finalmente completado seu ciclo e parado em meu discurso. Eram palavras firmes, com significados fortes e, por vezes, cortantes. Passaram dos meus dedos às teclas como um vinho encorpado, que embriaga a delicadeza do espírito e cumpre seu papel tal qual manda o roteiro. E foram taças desse vinho.
 No momento seguinte, a ressaca. Ressaca de sentimentos, desgaste de momentos lindos em um fim melancólico e banal como todos os outros. Uma história que teria ganho mérito no realismo, com um mistura do clássico e do romântico: uma ousadia que quase deu certo.
 Mas e quanto aos finais? Que vida redonda é essa que insiste em se refazer em novos corpos, novas feições? Ainda há de encontrar por aí uma alma que deteste formas tanto quanto eu, que enxergue o universo particular, essa bolha, que partilham as pessoas capazes de amar o outro como se ama a si mesmo.
 O abraço

 Abraço é respeito, cumplicidade, intenção – saber abraçar é quase uma arte. Estar nos braços de outro alguém, sentir o carinho, o afeto e toda a energia boa que transita entre os corpos. Há quem diga achar ali o melhor lugar do mundo, há quem diga que abraços falam. Conforto, segurança, saudade. Um ato simples, nem sempre comum, que carrega a força de milhares de sensações. Aproxima raças, cores e credos, dispensa fórmulas e protocolo – embora muitos afirmem que o melhor abraço é aquele bem apertado, que junta e aquece coração com coração. Abraço de pai, mãe, avós, amigos, amantes, colegas, ou até do desconhecido que passa todo dia por nós. O abraço é a expressão pura e máxima do sentimento.



Quarta-feira, 04 de Julho de 2012

 O dia amanheceu confuso; quebrei o despertador. Uma voz dizia ‘decide agora, decide agora, decide agora’. Era sonho.
 Levantei atormentada, dando-me conta do que se passava. Dia de semana, horário de aula. Eu de pijama, olhando para o relógio, examinando a consciência e, ah, agora foi!
 Só me perguntava até quando faria dessas. Ficar em casa, negar o mundo, adiar o tempo comum e viver o tempo para mim. Se bem me lembro, perdi uma prova nesse dia. E quanto importa? Tomei meu café no copo, engoli o pão com certa desvontade. Dois livros me chamavam na cabeceira da cama.
 Inundei o pensamento com palavras contrárias, permiti-me entrar no mundo inventado de outro alguém. Que poderes absurdos têm os livros! Deliciava-me a sensação de liberdade ao fazer minhas escolhas erradas e viajar dentro de meu próprio quarto.
 Mas a realidade é insistente. Vinha-me à mente a imagem de meus pais decepcionados, lá longe. Encarava o relógio e pensava ‘já foi’. Quantos já foram? Isso trazia à tona as boas almas que um dia me fizeram feliz. Quanta vida houve lá atrás. Ecoavam então as palavras de uma professora ‘quem não vive, não tem história para contar’.
 E o que é vida? Parava. Bem sabia que uma vez abrindo caminho a esses pensamentos, tudo estaria perdido, de novo.